TENHO MEDO DE ME CONHECER
- Márcia Magalhães
- 19 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
TENHO MEDO DE ME CONHECER
Sabe aquela sensação de estarmos sendo observados, e que temos a obrigação de fazer algo para sermos notados, aceitos, como se estivéssemos em dívida o tempo todo? Aqueles projetos que sonhamos em realizar, mas achamos que não somos capazes e estamos sempre protelando? Sabe aquela tão sonhada felicidade que buscamos, mas concordamos que não está ao nosso alcance, e que não é para nós? Sabe aquelas situações desagradáveis que acabamos sempre repetindo, e dizendo que ela nunca mais vai acontecer, mas sabemos que estamos nos enganando, nos sabotando e daí a pouco caímos na cilada novamente??
Pois nós temos a nossa frente uma encruzilhada com dois caminhos e apenas um a seguir:
O primeiro é concordar que o destino foi cruel conosco, e terminar a vida lamentando e buscando um culpado para os nossos fracassos, desafetos, inseguranças, angustias, entre tantos outros pensamentos e sentimentos. O segundo caminho é enfrentar os monstrinhos que existem dentro de nós e enxergar aquela criança que não foi ouvida na sua infância, mas sim machucada e que cresceu com traumas e recalques. Precisamos, portanto, nos posicionar.
Não existe caminho melhor a percorrer, que não seja mergulhar dentro de nós mesmos, enfrentando os temores, as carências, esses monstrinhos que nos assustam e nos paralisam diante de situações, muitas vezes, nem tão complicadas, mas que não nos deixam avançar.
A questão é ter a coragem de enfrentar a nós mesmos e nos conhecer. Se não estamos felizes com a maneira que estamos vivendo, vale a pena dar essa parada, olhar para dentro e fazer o caminho de volta. Porém, poucos estão preparados para essa mudança, porque isso implica enfrentar a nós mesmos. No entanto se não estou vivendo da forma como eu gostaria, mereço e faz bem para a minha alma e para o meu coração, preciso olhar para dentro e ver o que estou contribuindo para a vida e o que a vida está me oferecendo de volta.
Porém isso tem um custo, vai doer. Muitas vezes é mais fácil utilizar de medicamentos, como ansiolíticos, ou fugir do óbvio, e distribuir as culpas: meu marido, meu chefe, meu filho, minha mãe. Utilizar das futilidades externas como se isso preenchesse o vazio que existe dentro de nós (ingestão bebidas alcoólicas, exageros em compras e comidas, falsas divulgações de felicidade e uma necessidade de estar rodeado de “amigos”) ou, quem sabe, a ilusão de superioridade, armadilhas do ego, que faça a gente achar que sendo melhor que os outros seremos mais amados e aceitos por quem está mais próximo, ou na mesma medida nos mostrando inferiores e submissos seremos estimados e aceitos.
É uma necessidade do ser humano querer ser aceito e, por mais que doa, isso é uma verdade. Até o mais arrogante e prepotente, que parece ser uma pessoa sem sentimento, se mostra dessa forma para ser aceito, buscando respeito e aprovação das pessoas.
No entanto pessoas que estão em paz dentro de si e que encontraram seu próprio acolhimento e aprovação tem uma facilidade de demostrar gratidão, apreço, gentileza e generosidade a seu redor. Pessoas assim conhecem suas competências, mas também tem conhecimento de suas limitações, portanto não as deixam impactar em seus relacionamentos, mas muito pelo contrário, permitem que se construam relacionamentos saudáveis e sinceros. O relacionamento interpessoal reflete e transborda o que carregamos de percepção e entendimento de nós mesmos. Mas enquanto tivermos a ilusão de que o outro precisa mudar, viveremos uma inverdade e uma infelicidade sem tamanho.
Todo ser humano tem talentos, habilidades e competências, mas também inúmeras limitações e, por mais difícil que pareça, não ter medo de olhar para dentro de si é a única forma a permitir que as respostas encontradas possam fazer sentido e as lições aprendidas sejam profundamente enraizadas. Assim poderemos traçar metas para interagir de forma mais assertiva com o mundo e com as pessoas.
Podemos cometer erros sim, mas, sem sentir culpa, ou culpando a terceiros, poderemos corrigi-los e agir para concretizar nossos desejos usufruindo assim, do melhor que a vida tem para nos oferecer.
Márcia Psicanálise
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